devota das nuvens

devota das nuvens,

que temes tu?

que acorrenta-se a estas massas de lúgubre cinza,

que carrega sobre ti laboriosas toneladas?

temes ti, como o habitante das entranhas da terra,

ter teus olhos queimados pelo brilho do sol?

tu que cantas tão alto aos céus,

e contudo crê o firmamento cessar à altura das nuvens;

que tem a abóboda anuviada e jamais as dissipa

e alega conhecer os corpos celestes;

não aprendeste, minha querida?

tão-só a luz nos é perene

estas nuvens que agarras

têm natureza passageira.

não aprendeste, em tua vida?

que as aves têm ossos ocos

que para alçar-se ao céu em voo,

há de abandonar teus pesos.

Alê Ramponi
Enviado por Alê Ramponi em 05/12/2024
Reeditado em 05/12/2024
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