devota das nuvens
devota das nuvens,
que temes tu?
que acorrenta-se a estas massas de lúgubre cinza,
que carrega sobre ti laboriosas toneladas?
temes ti, como o habitante das entranhas da terra,
ter teus olhos queimados pelo brilho do sol?
tu que cantas tão alto aos céus,
e contudo crê o firmamento cessar à altura das nuvens;
que tem a abóboda anuviada e jamais as dissipa
e alega conhecer os corpos celestes;
não aprendeste, minha querida?
tão-só a luz nos é perene
estas nuvens que agarras
têm natureza passageira.
não aprendeste, em tua vida?
que as aves têm ossos ocos
que para alçar-se ao céu em voo,
há de abandonar teus pesos.