Começos sem fins
Peço perdão por ter olhado
quando você sorriu para mim
e com as flores perfumando suas mãos
se despediu naquela tarde de outono
e eu te olhei com ternura e saudades,
mas nada disse.
Peço perdão pelas horas em que eu fiquei longe
de te e não mandei as cartas que tanto queria escrever,
e observando a vastidão do mundo pela janela do trem
pensei que poderia ter ficado mais tempo contigo.
Peço perdão, querida, pelo orgulho que se exaltava diante
do nosso povo que mesmo estando nesta terra
se achava digno de ter tirado sua liberdade, seus sonhos
e recolhido o seu presente e despedaçado o seu futuro.
Peço perdão pelo momento em que não pude te ajudar
quando nossas mãos se tocaram e cada um foi para um lado
e eu tentava rabiscar poemas para te presentar
quando a guerra deles acabasse e a gente retornaria ao nosso lar.
Peço perdão por não ter conseguido te salvar dos homens maus
que te colocaram naquele campo e destruíram sua alma, seu corpo
mas não conseguiram, eu sei, destruir seu coração.
Diante de minha imagem envelhecida no espelho
eu sonho ainda em te ver no mundo celeste, querida.
Onde não há dor, sofrimento, morte não existe.
Perdoei-me ó idílica presença da vida eterna,
amor que se consome em chamas de uma paixão inocente
que provou que o tempo passa, mas as cicatrizes pulsam como lembranças.