UMA OUTRA AUTÓPSIA
Fui a óbito.
O que se coseu em mim eu não controlei.
Senti o tempo fincar-me na agulha
e minha vida pareceu o nada,
um pesponto entre um nascimento e a morte,
o remate de uma necropsia,
a perder a causa exata daquele falecimento
e achar corredores,
que me recolheram,
guardaram-me para eu constatar,
apenas o amor era o bem precioso.
O amor entrou pelas cavidades do meu rosto,
gavetas
e descobriu o casulo que fui,
invólucro suspenso na árvore da percepção.
O amor soltou-me os ossos.
E o bicho da seda
que me urdia o espírito,
nem era bicho.
O amor preparou-me
para um esgarçamento sem medidas,
um desfiamento de tudo aquilo que eu chamava
mundo.