A ESCURIDÃO

É horrível a completa escuridão,

havia esquecido a sensação.

Enchi o copo de vodca,

deixei cinzeiro e cigarro a mão,

ouvi a velha música nova

que tocava em meu coração

enquanto esvaia o vagalume

no vazio da sombra insólita;

sozinho estou imune ao som.

É bela toda escuridão completa,

o silêncio sobrepõe a razão.

A solidão costumava estar repleta

de vozes, de nomes em vão,

agora não toca minha janela,

não sangra mais meu corrimão,

é só um espelho que revela

a ausência do meu próprio chão;

sozinho estou frágil pro apagão.

É incompleta a escuridão sem ela,

a cegueira se dilui na recordação.

O tempo ausente se exaspera

do momento rude da separação

e se confunde, como quem espera,

um golpe fatal do seu perdão.

A ferida aberta é perpétua,

nada equivale a absolvição;

sozinho estou exíguo à libertação.

É honesta esta ágora no escuro,

os anos matam meu orgulho,

só quero ser de novo teu:

amigo pras horas do muro,

estar de volta ao teu circuito,

deixar pra trás o que sucedeu,

sem você não tem mais mundo

que quando brilha é só no breu;

sem ti em tanto me falta eu!

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 02/12/2022
Código do texto: T7662610
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