O PERDÃO DA BIGORNA SINGELA
De onde vens Bigorna singela?
E por quê assim tão calada?
Nada da vida revelas
onde fostes moldada.
Em fina fundição
de pura liga foi fundida
esta é a razão
por estar na tenda da vida.
Por quem foi comprada?
Oh! Bigorneiro assassino!..
expôs-me ao relento
e nele com calma enfrento
sol...
sereno...
chuva...
vento...
é assim o meu destino.
O Bigorneiro que a comprou
usou-a até ao abuso
de tanto malhar com o martelo
a porca no parafuso.
Com isto ele deseja
ver-me contaminada
depois corroída
pelo que tudo enseja
me considero abandonada
é o que me resta da vida.
É duro viver assim
como um balão sem vento
como rosa sem o jardim
como soluço sem alento.
Que culpa tenho eu
do seu modo de pensar
com egoísmo de Judeu
só deseja me usar.
Diz aos companheiros
que sou inutilizada
temendo pelos bigorneiros
seja eu observada.
O bigorneiro sentindo sua inabilidade
sem dar o braço a torcer
deprecia a qualidade
sem saber o que querer.
Perdoe-me!..
Perdoe-me!...
Cala-te!...
Estás perdoado.