O fim do texto
Não elaboro bem os títulos em meus textos, porque me permito não saber o fim antes de ser a sua hora.
Vou escrevendo sem mapa de voo...
Aliás, recuso cartomantes, mapas astrais, búzios, runas, pelo mesmo motivo.
Saber o fim me limita no direito de sentir esperança.
E para mim, sentir esperança é uma generosa forma de amar, ainda que seja somente escrevendo.
Não que a esperança signifique morrer lutando por uma ideia torta, ou por alguém que não mereça.
Quando me refiro a esperança, estou falando daquela fresta da nossa alma por onde a luz nos ilumina em dias sombrios; aquela brasa acesa por debaixo das cinzas dos nossos medos e remorsos.
Quando digo que não quero saber o fim é porque eu tenho urgências maiores.
Eu quero arriscar.
Eu quero viver.
Eu quero morrer.
E morrer quantas vezes for preciso
E de novo, e de novo.
Até que eu e esperança nos tornemos um só - convergidos na necessidade de perdoar.
Porque perdoar é a mais generosa forma de amar, pois no mesmo momento em que encerra o fim, o perdão abre no peito de quem sente a fresta pela qual adentra a luz do sagrado direito de acreditar.
Esse é o mais belo dos fins: a liberdade de não sê-lo.