O fim do texto

Não elaboro bem os títulos em meus textos, porque me permito não saber o fim antes de ser a sua hora.

Vou escrevendo sem mapa de voo...

Aliás, recuso cartomantes, mapas astrais, búzios, runas, pelo mesmo motivo.

Saber o fim me limita no direito de sentir esperança.

E para mim, sentir esperança é uma generosa forma de amar, ainda que seja somente escrevendo.

Não que a esperança signifique morrer lutando por uma ideia torta, ou por alguém que não mereça.

Quando me refiro a esperança, estou falando daquela fresta da nossa alma por onde a luz nos ilumina em dias sombrios; aquela brasa acesa por debaixo das cinzas dos nossos medos e remorsos.

Quando digo que não quero saber o fim é porque eu tenho urgências maiores.

Eu quero arriscar.

Eu quero viver.

Eu quero morrer.

E morrer quantas vezes for preciso

E de novo, e de novo.

Até que eu e esperança nos tornemos um só - convergidos na necessidade de perdoar.

Porque perdoar é a mais generosa forma de amar, pois no mesmo momento em que encerra o fim, o perdão abre no peito de quem sente a fresta pela qual adentra a luz do sagrado direito de acreditar.

Esse é o mais belo dos fins: a liberdade de não sê-lo.

Trebe de Maria
Enviado por Trebe de Maria em 11/02/2022
Código do texto: T7450113
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