RÉU CONFESSO
No tribunal de minha consciência,
Formou-se um jure inclemente
Que me condenou à pena mais severa:
O remorso que me atormenta
E hoje me acuso.
Pensei ser mais importante
Do que era: o homem
Com a capa de super-herói ,
A quem todos prestavam culto.
Um rei na terra:
Admirado, respeitado e festejado
Em todos os quadrantes do País.
Cogitei que podia tudo!
E tudo fiz impunemente!
Mudou-se a rota dos dias,
E a máscara me foi despida.
Eu, magistrado
Dos meus próprios atos,
Já não sou o ungido de antes.
Podem me chamar bandido!...
Condeno a mim mesmo.
A mim mesmo encarcero
Nas masmorras
De meu coração perverso.
Eu não tinha provas,
Mas condenei à revelia
Alguém que restou provado
Ser inocente.
Murmúrio do vento errante escutei.
Jogou-me em rosto acusações
Que tinha provas.
No libelo acusatório
De mim mesmo, sei, não há sentença
Pior para o magistrado
Ser condenado por parcialidade
E incompetente quanto ao juiz natural.
Tudo isso depõe severamente
Contra mim , em razão dos muitos
Crimes cometidos contra outrem:
Me predispus de antemão
A condenar e encarcerar,
Fechar todas as portas
Ao meu alvo predileto
Ao não lhe dá sossego
Numa caçada impiedosa!
Mudou-se a roda do tempo,
E o tempo, juiz imparcial
Que a tudo passifica
E traz a verdade,
Deitou por terra todos
Os atos meus, os anulando
De pleno, deixou às claras
Que em em síntese eram
Comprovadamente crimes,
Atos determinados ,
Acusando parcialidade
Para se chegar a um objetivo
De há muito arquitetado
E posto em prática.
Ante abundantes provas
Expostas à minha cara,
Restou provado
Os inúmeros delitos os quais
Me acusou o vento!
Sou réu confesso:
Juiz ladrão! Suspeito,
Parcial e incompetente!