Carta (Ou Oração) Para a Calma
Entre idas e vidas
Da vida que sempre neguei ter
Recomponho o meu ser
Após cada indecisão
Como um passo em falso
Tropeço, salto, declive
O sufoco da queda livre
Encontra o fim no chão
Entre anjos e demônios
Habitantes do meu templo
Refaço, ganhando tempo
Buscando o que satisfaz
Entre perdas e derrotas
Discurso vira chacota
Recalculando minha rota
À procura da minha paz
O erro de nunca estar certo
O peso de nunca ser leve
Abrindo mão do que se quer
Para fazer o que se deve
Tô devendo uma resposta
Ao garoto que me questiona
Ao dedo que me aponta
À voz que me afronta
Tô devendo uma melhora
À mente que nunca sossega
Aos olhos que não enxergam
Ante a densa neblina que cega
Mas juro, tento ser calmo
Juro, tento ser pleno
Rasgando minhas cordas vocais
Pro meu grito ser mais sereno
Caixeiro viajante,
Percorre estradas a esmo
Pregando a palavra a alheios
E abrindo mão de si mesmo
Lanço os meus versos à calma
Ante ao ódio que me cresce
Prostro-me, de joelhos ao chão
Para transmutá-los em prece:
Nossa Senhora dos Errantes
Rogai por nós, em eterno desterro
Soldado, guerreiro, infante
Atirando versos sobre seus erros
Dedico a ti, rara calma
Que, nesta estrada de pedras, prossiga
Para que, da conturbada minh'alma
Possa, um dia, virar amiga.