Perdão
Marquei o teu peito com penosas chagas
Quando a alma te velava com carinho.
Por ti tanto penei quando sozinho.
Por mim invoquei, na agonia, pragas.
Te peço perdão tal qual um mendigo
Que, trêmulo e com grande sofrimento,
Te implora por um pouco de alimento,
E que não o ofenda como um inimigo.
Pois perdoar é um ato divino
E eu, que sempre me vi como ateu,
Busco a bondade que Deus te deu
E que perdoe em brusco desatino.
Se eu pudesse sentir em teus gestos,
Por um segundo, o amor de tantos anos,
Reduziria, significativamente, os danos
E te dirigiria um sorriso honesto.
Porém, se mesmo assim me disser “não”,
Ficarei, então, a vagar pela cidade
Sentindo em mim a tempestade
Da angústia, da culpa e da solidão.