FETO FERIDO
Punhais me perfuram, no ventre estou.
Sedento da vida e tu me matou...
Feriste-me o peito e o sangue jorrou.
De um feto ferido que tu esmagou!
Indefeso de tudo, arpoado ficou.
A dor foi terrível e nem se importou...
Sabendo que eu era a fonte do amor.
Aos prantos calado, meu choro embargou!
A voz que podia bradar o amor.
Um sorriso no rosto, que nem semblante ficou...
Marcado por dentro com o choro da dor.
Nem gritar eu podia porque tu me calou!
Fui dragado, mataste-me, aos caos me jogou.
A semente da vida que não germinou...
Algoz e insano, és tu que negou.
Um feto indefeso, que a voz não bradou!
És sombra perfídia, algoz do pavor.
Por que me feristes sem ódio e rancor;
Se nada te fiz e a mim tu ceifou?
Calou o meu grito, pois tudo passou.
Mas um corpo inerte de outro corpo deixou.
Dilacerado e inteiro que por fora ficou...
Sangrando por dentro, esfacelado gritou.
Garganta de pedra, sarcófago da dor!
Anjos me ouviram, trombetas tocou.
Ouviram meus gritos de suplício e clamor...
Sirenes no céu anunciando o terror.
D’alma ardil que me renegou!
Sufocado estava e Jesus me chamou.
Momento de glória, Ele me salvou...
Não sofras, não chores o soluço da dor.
Nos trilhos da vida; quem nunca errou?
Não julgo quem erra, o perdão eu te dou.
O Pai é bondoso, alivia a dor...
Ele cura as feridas com candura e amor.
Sou ajo feliz, no paraíso estou!