Êxtase e Fúria
Às vezes, estou perto e não me vês,
Acercas-te de mim, também não sinto.
Eu leio as entrelinhas que não lês,
Mas fecho-te portas do meu recinto.
Tu és claro e límpido como a manhã,
Sombria sou, qual um final de tarde.
E se por fim m'ilumino, é no afã
De alimentar uma chama que arde.
Somos tão opostos, Vênus e Marte,
Temos a poesia que nos atrai.
Apenas aproxima-nos ess'arte,
Num êxtase, onde a fúria sobressai?
Ou nos sabemos ambos encantados
Por esse lume aceso que crepita,
Que queima e anseia ao nos manter ligados,
E, ao ver-nos sós, nossos versos recita?