EU, SEGUNDO EU
Eu sou chamado de mistério, mas na realidade sequer sou visto;
As minhas sombras, ganham todos os prêmios da minha luz;
Sou condecorado com honras de covarde, tão somente porque resisto;
Sou saqueado pela injustiça, porque a hipocrisia não me induz!
A falsidade vive a me beijar, e se ilude com minha aparente inércia;
Ela ignora que dialogo habilmente, com todas as suas faces;
Seu mar venenoso, sonha manter minha virtude submersa;
Por não suportar minha fala, imputa-lhe o rol dos disfarces!
Eu sou um mundo desabitado, porque me sinto espécime singular;
Já extenuei minha esperança, com meus discursos sem tribuna;
Na Arca de Noé eu não entraria, pois sou gênero sem par;
Penso ser leito de rio, inundado por águas de laguna!
E assim vou eu, soldado solitário, nessa guerra por todos;
Alcatéia de uivos em monólogos, matilha sem latido;
Arquipélago incompreendido, de mares antagônicos envoltos;
Com fama de franco atirador, mas na verdade, um combatente ferido!