Dicionarizando

Aberração.

Aberdim sobre areias completamente alvacentas

Abetiço, abertal fendido diante do horizonte

Prateado de sol e chuva

Antibélico

Tiros de festim, tiros nágua

Vivemos em plena antibiose

Matamos-nos reciprocamente,

Progressivamente, devastadoramente.

Avessia de gente barulhenta,

mal-educada, filhos da solidão e do desprezo

Bababi

Algaravia, coça de fonemas, de corpos, de bocas que

gritam em vão

Ai, Deus, me empresta um babalorixá

para que eu possa balançar e andar, e nessas incessantes

rotações e translações

eu envelheça com alguma candura

com alguma poesia

que eu possa morrer com a mortalha da esperança

eu preciso de calma

preciso ser caama

a raposa, hábil que sobrevive diante da adversidade

preciso vestir cabaia

e em posição de flor de lótus

meditar profundamente, escorrer delicadamente pelas frestas do momento

ultrapassa a barreira do som,

transcender a visão do aqui e do agora

preciso, insisto e transpiro tentando...

sofregamente.

Preciso aprender com cabalar

ser o aprendiz e o feiticeiro

ser o discípulo e o mestre

ser o caminho e o passo

e o silêncio

eu preciso de milhões de silêncios

para entender um só dia

não quero ser paradigma

não quero ser a dinâmica

nem a metafísica

mas me visto de dogmas todos os dias,

coloridos, curtos e longos

vastos e inexplorados

sob véus afrodisíacos

sob olhares agressivos

interrogadores

a perguntar o que não me atrevo

a responder

quero ser um paradoxo simples,

natural como a chuva

tropical

úmido como o ar..

encharcado de tantas confabulações

intermináveis

estou em presbiofrenia

em contemplação nata e muda

consigo entender,

dialogar

ficar amigo de meus inimigos

ficar próximo-distante

ficar clarividente e obscuro

aos olhos não-atentos

aos olhos cotidianos

gueto de gestos absurdamente

esvaziados

semânticas inteiras de histórias sem biografia

quero dicionarizar tudo

saber ao certo

o significado, a origem.

Mas não me revelem sobre o fim.

Vivemos gloriosos apocalipses

Ao entardecer,

Ao envelhecer

E ao esquecer a iniqüidade humana.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 30/04/2008
Código do texto: T969429
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