Ela e eu

Ela e eu. Ambas caladas.

Encaramo-nos como se o estranhamento fosse necessário.

Mas, não era. E ela sabia.

E, no entanto, apesar das minhas tentativas de aproximação,

ela continuava branca, alinhada, fazendo-se de difícil.

Passei a ignorá-la.

Fiz uma busca, minuciosa, em minha estante.

Qualquer livro serviria para tirar-me o desejo de tê-la sob controle.

Optei pela Gramática. Não me canso de querer aprender.

Os quês, os porquês, os tais, os quantos. Ora, nossa língua é fascinante.

Mas, apesar de só ouvir o som das folhas que folheava, de tempo em tempo, arriscava um olhar em sua direção.

Será que me diria alguma palavra?

De repente, resolvi avançar.

Juntei-a em minhas mãos e dei-lhe uma bela amassada.

Foi o suficiente. A folha de papel virou uma bola.

E, apesar de,

acolheu-me.

Deixou que eu lhe rabiscasse o amor, permitiu-se a interinidade.

Timidamente, ressurge como inspiração.

Amassada, desalinhada. Mas, pura.

Já era hora. Bem vinda seja!