LEMBRANÇAS EXISTENCIALMENTE VIVAS
LEMBARNÇAS EXISTENCIALMENTE VIVAS
“Através das palavras a Paz virá espontaneamente”
Jacky Leno
É maravilhoso sentir-se útil!
Quando à hora virá me roubar o último suspiro de vida? É que espero com a ansiedade de uma borboleta!
Há quatro dias, eu fui presenteado com a visita da lua do oriente que me golpeou com ondas maremóticas que invadiram as palafitas num súbito olhar, era uma lua escura e vil. E me embriaguei de noites.
Há três dias, uma libélula pousou em minhas palavras, o seu corpo esguio e suas asas esvoaçantes não cansei de admirar, invejar e querer as asas para mim. Ela estava quase perdida, eu também. Ela estava despida de pudores, mas vestida de incertezas. Certamente por não saber se suas asas seriam fortes o suficiente para atravessar o oceano atlântico de ondas de dúvidas que chegavam a onze metros de altura, e ventos que chegavam a trezentos km /h, mas que se acalmaram algum tempo depois, e só ficou o rastro de desolação, silêncio e tragédia cômica sobre o oceano que outrora revolto por duas vezes. Depois ela partiu com o calar do dia, esquecendo as suas asas no chão, e eu as guardei comigo. Enquanto isso, a vistosa dama cortesã das noites, transfigurou-se em vinho e pão, para saciar um, dos dois albatrozes à deriva neste oceano. Eles tentavam insistentemente pousar sobre uma rocha, para descansarem suas asas debilitadas. Depois de alimentado, o albatroz resolveu ruminar o que havia comido para poder alimentar o outro, para que ambos sobrevivessem sobre aquela rocha no meio do oceano das frustrações. E ambos desfrustraram-se num descanso nectante e rejuvenescedor. E o luar refletia suas sombras no oceano agora pacifico.
Dois dias atrás, percorri montanhas e arranha-céus espetaculares, onde vi os anjos atirarem-se num suicídio majestoso para salvarem crianças que eram arremessadas janelas a fora, pelas mãos dos que tem a imagem e semelhança de DEUS!? Só por que não sabem voar! E é incrível o medonho tamanho do monstruoso do SER HUMANO-DEUS que dá e retira a vida dos seus... Vi também uma lua cheia num véu de chuva fina que perdurou noite à dentro, e a contemplei espantado, enquanto um cometa e uma estrela cadente iam de um lado a outro, numa alegria crescendo mais e mais, e fui dormir sob o admirado olhar desta lua cheia de nova vida.
Ontem travei uma batalha de vencedores e vencidos, com uma flor cega-rega, onde as armas mais afiadas eram os olhares que se cruzavam no campo de batalha das palavras defensivas e ofensivas, que se embolavam num emaranhado de arame farpado e espinhos. Era a lei do mais forte, onde ambos já haviam perdido, mas queriam continuar se confrontando até o fim... Mas eu fui arrebatado para meu inferno-céu de dúvidas, estes abutres que pousaram sobre minha pobre e mendiga carcaça que espera com tamanha ansiedade a salvação. Fiquei frente a frente com Deus e o Diabo, onde pesou sobre meus ombros, as acusações verdadeiras de décadas a fio. E sem defensor decidi falar, falar sobre tantas coisas que me fizeram ser um ser sem ser, e comecei me desarmando de todos os meus pudores, esses dragões alados que me cercavam dias e noites. Então, minha essência veio á tona: tudo me feria; tudo me sangrava; tudo me fragilizava; até que, gritaram a sorrir quase satisfeitos, Eis HOMEM!? Foram horas e horas de açoites, torturas, moléstias, humilhações... De repente tudo se fez silêncio, tudo mesmo, até meu peito e meus algozes. E o silêncio perdurou inquietante madrugada à dentro.
Hoje, no meu cárcere leito, despertei ressuscitado dos trilhões de palavras-pedras atiradas sobre mim. Mas eles, os arredios, não sabiam que quanto mais me afogam no poço do meu próprio ser mais compreendia o quanto sou audaz.
Hoje andei de mãos dadas com a despedida que ria de si mesma, por não entender frases como “A vida é veloz”, “Que venham primeiro os loucos para depois virem os lobos” de Edivaldo Tarta, e também não quis explicar. Mas ela não partiu dizendo adeus. Ela disse Tchau! E consegui me desvencilhar das correntes que me atrelavam ao chão suspenso deste inferno-céu meu. E corri o mais rápido que eu pude, e quando as minhas pernas não mais agüentarem, eu vou usar as asas da libélula que guardei comigo e voarei o mais alto que elas puderem me levar. Tudo isso só para tentar conseguir alcançar o amanhã...
Raymund Hazullw,
Marituba, 22-04-08.