Citricamente doce

Não. Não direi do amor. Não agora.

Ele é efêmero. Às vezes, troca a rota do Sol

para aprofundar nas brumas.

Não. Não direi das flores.

Essas desabrocharam sem as pétalas.

Não puderam sentir a gota de orvalho em frêmitos.

Nem direi, tampouco, dessas sombras tão presentes

que ameaçam tropeçar no meu cansaço já bem enfermo.

Direi da música que envolve o momento

e que tramita pela pele, absoluta e serena.

Em notas doces, direi das matas

que abrigam meus pássaros viageiros.

Sombreando-os, acolhendo-os, alimentando-os.

Essas matas, com seus mistérios,

versejam por séculos, meus segredos.

Suas árvores com suas folhas em nervuras

recebem a música e liberam suas notas cítricas

perfumando a vida, essa densa vida,

que se minha fosse, intensa e completa,

palpitaria, enfim, por inteiro.