Fabela dos dois bons poetas
Num reino, em que reinava a poesia,
viviam dois poetas diferentes:
Um deles, um poeta displicente,
guardava todos versos que fazia.
O outro trabalhava, noite e dia,
todos os seus sonetos e poemas.
Ele escrevia sobre vários temas:
Tornou-se um imortal de academia!
Ao falecerem, já no purgatório,
-passagem compulsória dos poetas-
purgaram suas máculas secretas,
desde o nascimento ao velório.
O imortal, de culto e oratório,
tornou-se querubim, na hierarquia.
Ao displicente, o pai reverencia
e põe-se a recitar-lhe o repetório.
A poesia é o contraditório
entre a verve e a obra que se cria.