Seres humanos

Como se pode a alguém convencer

de raciocinar sem medo de se transformar

Pondo-se realmente no lugar

de quem não tem nada a perder?

Como sentir seus fracassos

dispondo-se aos pedaços no lugar daquele ser?

De que jeito abandonar o ego distante e cego

Para, enfim, sentir e poder ver?

Entender ou dizer que entende,

isso não compreende, em verdade, nem a paciência!

...É um arremedo de esmola que sai da sacola.

Um esforço automático e efêmero para acalmar a consciência

A natureza humana é de sobrevivência

como assim o são todos os seres vivos.

Por isso temos que lembrar toda hora

que nos apiedarmos é apenas esmola

No lugar dos outros poderíamos sim, conseguir soluções

Em uma ampla frente dos que, como a gente, sentem as situações

Mas o desconforto de mente e de corpo nos faz declinar

Temos o exemplo de quem por tanto tempo só fez ignorar

...É a sociedade das convicções e das competições

Dá o mesmo instrumento para quem tem ou não tem condições

...E estatisticamente assistimos crescer vieses marginais

Vemos diariamente o quanto o decente é ser incapaz

Aos desengajados, aos desempregados, aos perdedores

Aos afiliados de gangs, viciados e doentes pelos corredores

Aos desesperados nas filas de gado com dores lancinantes

Aos injustiçados que estampam a angustia nos seus semblantes

Aos explorados que ainda agradecem o pouco que têm

Aos humilhados que não têm como sair da condição de reféns

Aos simplórios e ingênuos que não possuem armas para se defender

Aos desorientados a quem é muito fácil errado escolher

A tantos quantos apenas um pouco

mudariam o destino com um novo jeito de agir

é que me animo em tão incipientes versos me referir.