A DIETA

Quando me vi no espelho da virtude, confesso que não gostei

Surgiu um ego obeso, juntamente com o brio em evidente flacidez

Uma excessiva inércia adiposa, deformando a ética da minha lei

Então decidi que era hora de pôr em forma minha sensatez!

Assim eu resolvi fechar a boca da cegueira e fazer dieta

E reduzi pela metade todas as calorias da ambição

A consciência sedentária se iluminou e até virou atleta

Eu destruí as dispensas do fútil e ao essencial dei nutrição!

Eu acordei bem cedo, para ingerir as vitaminas da bondade

E trabalhei todos os músculos franzinos da minha visão

E fomentei vigor em toda ergometria da verdade

Para não virar um insulto malhado de um cérebro vão!

Assim eu fiz dieta de mim mesmo e dei saúde para o meu eu

Dieta da injustiça, que eu comia nos pratos da omissão

Dieta do perdão inútil a quem dele nunca mereceu

Dieta da indiferença a quem merecia todo meu coração!

Dieta da frieza, que só me permite ver meus próprios interesses

Dieta da TV, com seu lixo comestível estragado

Dieta do silêncio pra quem merece meu apreço sucessivas vezes

Dieta das costas viradas para tudo que me é mais sagrado!

Eu faço dieta das roupas, das festas e do mundo moderno

Dieta desse inferno, que joga em cruzes todos os meus valores

Dieta de tudo que me maltrata, quando é preterido o que mais quero

Faço dieta do meu lado deserto, para que o outro se encha de flores!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 27/03/2008
Reeditado em 30/01/2012
Código do texto: T919174
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.