A DIETA
Quando me vi no espelho da virtude, confesso que não gostei
Surgiu um ego obeso, juntamente com o brio em evidente flacidez
Uma excessiva inércia adiposa, deformando a ética da minha lei
Então decidi que era hora de pôr em forma minha sensatez!
Assim eu resolvi fechar a boca da cegueira e fazer dieta
E reduzi pela metade todas as calorias da ambição
A consciência sedentária se iluminou e até virou atleta
Eu destruí as dispensas do fútil e ao essencial dei nutrição!
Eu acordei bem cedo, para ingerir as vitaminas da bondade
E trabalhei todos os músculos franzinos da minha visão
E fomentei vigor em toda ergometria da verdade
Para não virar um insulto malhado de um cérebro vão!
Assim eu fiz dieta de mim mesmo e dei saúde para o meu eu
Dieta da injustiça, que eu comia nos pratos da omissão
Dieta do perdão inútil a quem dele nunca mereceu
Dieta da indiferença a quem merecia todo meu coração!
Dieta da frieza, que só me permite ver meus próprios interesses
Dieta da TV, com seu lixo comestível estragado
Dieta do silêncio pra quem merece meu apreço sucessivas vezes
Dieta das costas viradas para tudo que me é mais sagrado!
Eu faço dieta das roupas, das festas e do mundo moderno
Dieta desse inferno, que joga em cruzes todos os meus valores
Dieta de tudo que me maltrata, quando é preterido o que mais quero
Faço dieta do meu lado deserto, para que o outro se encha de flores!