Sobre o cárcere em si, por Tenório Valjean

Tirem-me daqui agora!

Não confundam o que eu pedi.

Tirem-me desse maldito cárcere!

Quantas vezes eu vou ter de repetir?

Estou cansado de passar cem vezes pelo mesmo lugar

E procurar entender porque aquelas coisas sempre se repetem

Sempre repetem, e não cessam

E martelam minha mente

Como se fossem Thor -

Sem ter o seu poder.

Olhem em volta ,

Malditos prisioneiros de mente,

(Disse em tom alto dessa vez)

Quantas dessas pessoas nunca mais verão?

Quantas dessas não são senão fagulha de fogo em tuas vidas?

Esses olhares perdidos, esses semblantes gastos

Essas mentiras não contadas, e todo esse pensamento sublime

Tudo isso não vai perecer

Porque a memória não tende a perecer imagem

O que confirma que nada disso valeu pra vocês

E é por isso que me trancafiam?

Por ignorar esses tijolos que deixam passar a água do meu telhado?

Mas ora! Que culpa tenho eu de ser assim?!

Não pedi que me trouxessem pra contar verdade alguma

Pois a verdade que sei é mentira pra vocês

Que não sabem se antepor a um obstáculo da mente

E tendem sempre a confundir o que é real e o que é imaginário

Observem:

Tudo isso é natural

Não te lembres de nenhum rosto, de nenhum segundo

Pois quantos rostos precisam vocês verem pra se lembrarem de só um?

Que é só isso que vale...

É isso que vai perecer

A lembrança sublime!

Estou farto dos que passam pelas ruas e perguntam:

"Quantas vezes mais terei de suportar isso?"

Isso tudo é simples de se dizer!

Suportarás até que se suporte a si mesmo, pois isso é parte de si!

Ainda que negue tudo, é parte de si, e não podes fugir à realidade

Como se fosse um pássaro livre

Ainda que fossem livres, não têm asa

E não sabem que o céu existe, pois estão sempre olhando a diante, vidrados, loucos por um futuro!

Mas que futuro?!

Nada dessa exatidão pode levar ninguém a nada

Estou cansado de sonhar sempre a mesma coisa

Cansado de perguntar quando todos esses pensamentos vão esvair-se

De querer saber quando todas essas palavras não ditas irão desaparecer

Porque é isso que forma o que eu sou

S se pudesse me livrar tão facilmente disso, não seria eu;

Seria outrem.

Ainda assim é mágoa, ainda assim canso-me

(Apesar de saber da realidade)

Livrem-me dessa maldita prisão, ó perdedores!

Não culpes quem vive

De vocês não viverem,

Pois a vida é uma metáfora;

E se não sabem

Eu sei

Sei interpretá-la

Diego Guimarães Camargo
Enviado por Diego Guimarães Camargo em 26/03/2008
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