No dia em que alguém parte
No dia em que alguém parte,
parte uma parte de nós.
Nas malas seguem pijamas e meias
e o cheiro íntimo, que nos perfumou as noites.
Nos livros, partem as palavras partilhadas
e aquelas dedicatórias das noites de Natal,
que juráramos eternas.
No dia em que alguém parte,
partem também mil anos de juras.
Todos os meses de ilusão,
todas as promessas de sonhos e
aquele jeito de agarrarmos uma mão
como se fosse para sempre.
No dia em que alguém parte,
não permanece apenas uma ferida aberta no coração.
Resta também uma dor aguda, fria e muito muito insistente.
A dor do medo de voltarmos a acreditar, de voltarmos a crer .
Sobretudo, de voltarmos a querer.
No dia em que alguém parte fica este vazio de um lado da cama,
mais um lugar à mesa da cozinha e numerosas gavetas por encher.
No dia em que alguém parte,ficamos quietos, quietos, quietos,
na inquietação desse perder.