Prisioneira

(16/06/04)

Daqui posso ver a criança

Trancada naquele porão

Daquele lugar frio e escuro

Fizeram a sua prisão

E nesta cela improvisada

Que cresceu ao seu redor

Aguarda placidamente

A chegada de um dia melhor

Pela fresta da janela

Vê o mundo lá fora

Sonhando hora após hora

Com o dia da liberdade

Deseja rolar na grama

Correr

Brincar com o cachorro

Espantar passarinho

Correr pra cima e pra baixo

Jogar pedra

Pisar na água

Correr, correr, correr

Rir bem alto

Fazer bolinha no canudinho

Trepar no muro

Rolar o pneu

E ralar o cotovelo

Rasgar a calça no joelho

Dormir até tarde

Olhar pro céu

Pegar formiga

Subir na árvore

Catar coquinho

Fazer guerra de comida

Gritar de felicidade!

Mas ali, a muito trancada

Não pode cantar

Não pode brincar

Não lhe permitem quase nada

Vez por outra se arrisca

Apronta uma travessura

Transpõe as grades

Vai à rua

Mas sempre é capturada

E jogada de volta

No fundo da cela escura

E ali se mantém

Peralta e faceira

Esperando que alguém

Lhe abra a porteira

Derrube a barreira

E lhe diga de esgueira

“Não és mais refém”

Assim, meu amigo

Pense e coloque na balança

Faça um favor a si mesmo

E liberte essa criança!