MORTE
A Morte não nos separa,
Nem é terrível algoz,
Não é só vida que pára,
É rio que alcança a foz...
A Morte apenas nos une
Num só fim, de modo igual,
E a dor que se presume,
Chuva que passa, afinal...
A Morte é ponte que liga
Dois mundos em paralelo.
Se parece que castiga
É que esquecemos que o espelho
Tem dois lado bem distintos:
Um que reflecte o visível,
Outro, opaco labirinto
Onde se esconde o tangível.
Ela só tem por missão
Escolher-nos, ao acaso.
Se parece que é traição
É que esquecemos que o ocaso
É o dia em transição,
Só o renovar dum prazo...
É Vida, com o senão
De não admitir atraso.
A Morte colhe sem dó
As flores dum jardim suspenso,
Mas deixa raízes no pó
Que se espalham com o vento...
E o seu papel é, no fundo,
Permitir o ciclo eterno,
Reunir num mar profundo
Gotas de um rio sem berma...
A Morte não é tão forte
Que nos separe de alguém...
Porém é tão forte, a Morte,
Que nos vai juntar no Além...