Trancado em mim

Tem noites em que a mente não dorme,

grita, sussurra, se afoga em silêncio —

e eu finjo não ouvir.

Amar, pra mim, é cair sem chão,

é expor o peito onde já há ruínas,

é mostrar a alguém

o mapa das minhas cicatrizes

e torcer pra não rirem da rota.

Eu tive chances.

Sorrisos que diziam “vem”,

olhares que prometiam abrigo.

Mas meu coração…

é uma casa trancada por dentro.

E eu?

Eu perdi a chave de propósito.

Medo.

De ser lido nas entrelinhas,

de ser amado e depois esquecido,

de curar feridas que me lembram

porque ainda respiro.

Então fico aqui —

no abrigo frio da minha prisão.

É solitária, sim,

mas não exige confiança,

nem entrega,

nem fé em promessas frágeis.

Não quero que sarem minhas cicatrizes.

Elas são tudo que me resta

pra provar que sobrevivi

sem precisar amar.

Prefiro a dor conhecida

ao risco de um novo fim.

Porque amar…

é morrer em outra língua.

E eu só falo a minha.

Cassandra Oliver
Enviado por Cassandra Oliver em 25/04/2025
Reeditado em 25/04/2025
Código do texto: T8318138
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