Trancado em mim
Tem noites em que a mente não dorme,
grita, sussurra, se afoga em silêncio —
e eu finjo não ouvir.
Amar, pra mim, é cair sem chão,
é expor o peito onde já há ruínas,
é mostrar a alguém
o mapa das minhas cicatrizes
e torcer pra não rirem da rota.
Eu tive chances.
Sorrisos que diziam “vem”,
olhares que prometiam abrigo.
Mas meu coração…
é uma casa trancada por dentro.
E eu?
Eu perdi a chave de propósito.
Medo.
De ser lido nas entrelinhas,
de ser amado e depois esquecido,
de curar feridas que me lembram
porque ainda respiro.
Então fico aqui —
no abrigo frio da minha prisão.
É solitária, sim,
mas não exige confiança,
nem entrega,
nem fé em promessas frágeis.
Não quero que sarem minhas cicatrizes.
Elas são tudo que me resta
pra provar que sobrevivi
sem precisar amar.
Prefiro a dor conhecida
ao risco de um novo fim.
Porque amar…
é morrer em outra língua.
E eu só falo a minha.