Ainda sem título
Reconheço teu desejo pela discrição,
teu apreço pelo recato diante dos olhos do mundo.
E, mesmo sem espaço ao meu lado,
é em ti que repousam meus pensamentos,
como folhas ao vento buscando repouso no mesmo chão.
Tu desconheces a intensidade que me toma
quando te observo em silêncio.
Cada gesto teu, cada palavra dita ao acaso,
acende em mim uma chama que não ouso confessar.
E embora saibas pouco ou nada do que carrego,
meus dias gravitam ao redor da tua ausência.
Sinto tua falta, mesmo sem jamais ter-te de fato.
Falta do que imagino que serias em meus braços,
do perfume que nunca toquei,
da boca que apenas sonho.
Tua imagem, serena, vive guardada
na tela do meu celular e na memória do meu afeto.
Tu me lerias com facilidade,
se por um instante voltasses o olhar para mim.
Sou transparente nos silêncios que guardo,
mas tua atenção jamais se deteve aqui.
Mesmo assim, permaneço.
Não desejo explicações,
nem peço reciprocidade.
A beleza desse sentir está em ser livre,
em ser meu —
ainda que solitário.
E se falam de mim, que falem.
Eles não sabem.
Nem tu sabes.
Mas eu,
eu sei o peso e a doçura
de amar em segredo