O toque que ficou
Um toque breve, talvez, pra ele, nada
mas em mim ficou como brasa calada
Queimou pele, memória, silêncio, razão
fez do meu corpo um campo em negação
Ando por ruas, salas, espelhos
e ele me segue, feito sombra nos joelhos
Não tem som, mas grita na alma inteira
um sussurro sujo que ainda me arreia
Vez ou outra, tento calar esse grito
“Foi só um momento… não faça alarde, é mito”
Mas o corpo sabe, o corpo nunca mente
Ele treme, se fecha, se culpa… inocente
O tempo não apaga, só mascara
o que me rasga em silêncio, cara a cara
Frescura? Diriam os que não sangraram
Pequeno? Só para os que nunca se quebraram
Há dias em que sorrio, quase me engano
mas o toque volta, cruel, insano
E eu me pergunto: será que foi tão ruim
Mas no fundo, eu sei: partiu algo em mim
E sigo costurando o que não tem linha
tentando viver, mesmo sendo sozinha
com essa dor invisível, porém presente
um toque indesejado… eterno e ardente