Procura-se
Sim, estou sumido. Talvez há cinco, seis anos — ou mais.
É estranho...
Sinto como se existisse um certo consentimento para que eu seja, mas, ainda assim, nunca sou.
Como se me coubesse o papel de existir apenas nos intervalos, nos silêncios dos outros.
É uma sensação falsa, traiçoeira,
como tentar encaixar quadrados dentro de círculos.
Palavras doces ditas por bocas cheias de gasolina.
Beleza que arde. Afeto que incendeia.
Estou desaparecido há tanto tempo que os cartazes de “Procura-se” já perderam a tinta.
Estão rasgados, apagados, esquecidos nos postes que ninguém mais olha.
Quem passa por eles já não reconhece o rosto, o nome — nem a sombra.
E, sendo honesto…
nem eu me reconheço mais.
Como encontrar alguém que não sabe mais quem é?
Talvez o cartaz precise ser refeito.
Talvez alguém precise lembrar que eu existo.
Ou talvez eu mesmo precise aprender a me redesenhar
antes que tudo se transforme em nada além de um passado sem rastro.