PONTES DE INFINITOS VERSOS
Entre as palavras que se lançam no ar,
surge um rio de vozes a cantar:
poesia que abraça o mendigo e o rei,
no mesmo abraço que ao tempo terei.
Não mede idade a canção que se tece,
no tear do verso, criança e avó se entrelaçam.
Palavra que é farol, luz no nevoeiro,
liga margens distantes num só terreiro.
No papel, o rico e o pobre se encontram,
suas mãos invisíveis nas linhas se montam.
Versos são pontes que o ódio não transpõe,
calam a distância, e sua intenção expõe.
Fala do amor que em favelas escoa,
ou no silencioso castelo a noite que doa.
Nas praças, nos campos, nos trilhos do trem,
a poesia é língua que todos sustem.
Não há muro ou grade que sua força detenha:
ela rompe concreto, desfaz a armadilha.
No verso livre, o mundo se constrói,
poesia é pátria, é casa que não destrói.
Entoem todos, em coro infinito,
o canto que une laços, desfaz o conflito.
Que a palavra, em seu voo sagrado,
seja o laço eterno do abraço sonhado.