Algo em mim

Algo em mim surpreende,

Como quem, perdido, chega de repente.

Como quem cria do nada o novo que vem,

Como quem se inventa um pouco além.

Algo em mim diz o contrário do que me sustenta,

Como quem foge desatento é sem medo.

Algo em mim me fere de morte,

Como força que não se pode vencer.

Algo em mim sabe de nada,

Como louco que se traveste na esperança de se esconder.

Mas, algo em mim, é duradouro,

Como força que não se esvai.

Como uma guerra sem fim,

Como dor de morte e de vida.

Algo em mim busca e não encontra,

Algo em mim vai e vem, soluça no escuro, não se reconhece.

Como quem chora sozinho à noite, com medo do que virá com a manhã.

Como quem não se reconhece na sua constância.

Algo em mim se debate, desassossega e foge,

Como luz que cega e deixa ver.

Como cheiro que se entranha na alma que não o sente.

Algo em mim é derradeiro, é fugaz.

Algo em mim se cala e diz.

Sem espírito, sem muletas, sem ilusões do porvir.

Algo em mim dorme em paz, como quem não tem certezas.

Algo em mim se fez em pedaços, em migalhas.

Algo em mim se foi para bem longe,

Algo em mim resiste e quer permanecer em si,

Como memória do que não viveu.

Algo em mim suporta ser, algo em mim se demora e fica.

Sob a minha pele me mostro e me escondo. Luto e me entrego. Sob a minha pele, vivo.

João Batista Valverde

01/09/2024

João Batista Valverde
Enviado por João Batista Valverde em 03/01/2025
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