Nãos
o que sobra de alguém depois de crescer
crescer bem antes do tempo, quando tudo que se queria era brincar na terra do sítio, correr para pedir a bênção do avô, beber leite com nescau...
é sabido, a vida sempre cobra
só que às vezes a cobrança vem cedo demais
perde-se a inocência
contamina-se com a violência
vive-se à espreita do pior
a cobrança é sobretudo seletiva
ela escolhe o sol radiante, o sorriso mais bonito, aquele que tinha mil e um planos para o futuro
eu sou a pior versão de mim há pelo vinte anos; e eu só tenho vinte e cinco
a criança mais amada e o adulto nada querido
um quarto de um século atravessado pelos nãos
não ser
não estar
não pertencer
não existir