Um dia, antes de um aniversário
Um dia antes, a ansiedade senta na cabeceira.
Afinal, amanhã será um aniversário.
Mais um ciclo fechado, mais um peso colocado no tempo.
Uma celebração que sempre acaba como todas as outras:
com restos de alegria espalhados no silêncio.
Amanhã eu faço aniversário.
Amanhã, relembro os dias que (sobre)vivi
e os que se apagaram sem um porquê.
Mas não estou feliz.
Sempre há uma sombra, pós-festa, pós-brinde.
Uma palavra dita em raiva, uma lágrima no canto,
às vezes um ódio que só o vazio explica.
E então, o amanhã será só mais um.
Queria pular o ritual,
fugir do teatro dos parabéns,
da dança forçada da alegria.
Finjo que gosto, mas cansa.
O bolo pesa, a vela arde,
e a nostalgia só prolonga o exílio.
Aos que gostam, desejo vida longa.
A mim, talvez só a leveza
de um dia sem nome,
onde a passagem não precise ser celebrada
nem temida.
Se o amanhã vier, que seja apenas isso:
um dia que exista,
silencioso, como um intervalo entre anos.