O que tem dentro?

Entrei numa cafeteria na esquina da rua

O ambiente frio, requintado, sentei-me no canto

Ao lado das samambaias, pensei na companhia tua

Estava sozinho e feliz, mas por ti não perdi o encanto.

Estava aos olhos dos outros, viajando

Então, acenei para a garçonete

Esta, vinha o mais rápido que pôde, caminhando

Eu pedi uma sugestão do cardápio, na chique lanchonete.

Os preços tão altos, só podia ser coisa boa

Pedi um café "Encontro das águas", e aguardei

Olhei tantos casais, e pensei... o que tem dentro?

Lembrei de um casal de amigos, há tantos anos unidos

Lembrei dos que já até se casaram e pensei de novo... o que tem dentro?

Isso me lembrou alguns segundos atrás,

Quando a garçonete me sugeriu um prato especial

E eu perguntei... o que tem dentro?

O que tem dentro que o torna tão importante, sem que haja outro igual?

O que tem dentro que não pode ser destruído?

O que tem dentro que os mantém tão unidos?

No primeiro pedaço do sanduíche, senti minha infância...

No primeiro gole de café, o debate já havia se iniciado...

E eu me peguei pensando... tem tanta coisa aqui... e ao mesmo tempo, vacância.

No meio do sanduíche, me perdi no medo

No meio do café, me afoguei na insegurança

Era claro que o sanduíche era demais pra mim

Era óbvio, que eu deveria ter só pedido um café.

Mas meus olhos queriam degustar um visão diferente

Eu queria ser surpreendido, queria sentir algo diferente

Mas só tinha presunto e queijo, como pôde ter um gosto tão distinto?

Achei que meu paladar estava extinto.

No último gole, senti o açaí por baixo do café

Era como um grito, um pedido de socorro

No último pedaço do sanduíche, senti o queijo ralado

Era como um uivo, um sinal de que algo não era para estar alí.

Talvez fosse eu, sozinho naquela mesa para dois

Talvez eu devesse só não ter postado no status, depois

Talvez, se eu tivesse ao menos dito a alguém, pois

Senti como se não houvesse algo dentro... mas o que deveria ter dentro?

Não sei, por isso senti que precisava colocar algo...

Como se eu fosse uma caixinha, eu colocava tudo o que eu queria...

Mas até coisas ruins entraram sem que eu pudesse controlar...

Naquela bendida cafeteria, cada centavo pagou minhas mais profundas frustrações.

E quando vi aqueles 10% adicionado, pensei "o que tem dentro?"

Era a consideração que tive por quem me serviu de bom grado...

Mas a despedida foi tão seca quanto sol de verão, naquela noite de 38 °C...

Que realmente, questionei sobre minha atitude... o que tinha dentro?

Era eu, mais uma vez, querendo experimentar uma nova sensação...

Era eu, mais uma vez, buscando reanimar uma emoção...

Era eu, mais uma vez, tentando demonstrar compaixão...

Era eu, infelizmente, desafiando-me a atravessar o vão.