E Depois Das Ondas?
E depois das ondas?
O que o mar traz?
Não nos diz nada
E o silêncio nos sufoca
E depois das onze?
Que bar ainda anda aberto?
Que ruas são essas, desertas
Preenchidas com nada mais que a penumbra do passado
Pessoas passaram por aqui
Fardadas, vestidas e nuas
Pessoas morreram por aqui
Estão debaixo do chão que pisamos
E no céu que nos cobre
Estão nas estrelas distantes, nas memórias de uma aurora qualquer
Eventualmente não haverá nada além de grama por aqui
E que tristeza será
Não poder falar e nem te ouvir
Não poder ter ver e nem sentir
Não poder amar, não poder falhar
Não precisar dormir
Não comer, não fugir
Do medo, de se entregar a ternura de um abraço quente
Em um canto qualquer, num pedaço de terra
Uma descoberta, num beijo morno que se esfria a cada dia
E na cama vazia, após tantos dias
E no ar rarefeito, as memórias que viram estrelas
E na aurora de novo, por cima de nossas cabeças
A angústia e ânsia de ter e não ter
Querer e não querer
Poder e não poder
Viver.
E depois das ondas?
Pra onde levam os restos que boiam sobre a água?
Pra onde vão os medos e as culpas que perduram pela praia?
Pra onde vai você, quando não tiver mais nada?
Essa deveria ser a única pergunta válida.