ATRÁS DAS CORTINAS
Sou reflexo que dança em espelhos quebrados,
Fragmentos de um todo jamais decifrado.
Procuro em rostos, em vozes e risos,
A metade que falta nos meus abismos.
Mas onde estou, senão em mim?
Em memórias veladas, num eco sem fim?
Na curva da alma, no sopro da mente,
Atrás das cortinas de um eu emergente.
Seria a multidão um palco ilusório,
Onde perco meu centro num vão provisório?
Ou seria o outro, em seu vulto fugaz,
Um reflexo do ser que a mim se desfaz?
As cortinas tremulam, mistério e vertigem,
Desvelando segredos de antiga origem.
Sou eu, ou sou outros? Enigma profundo,
Um ponto disperso no caos do mundo.
Mas quem sabe, ao fim, a resposta me caiba,
No foco esquecido, onde a mente desaba.
Sou eu que me busco no escuro, sozinho,
Um lampejo de ser no eterno caminho.
Tião Neiva