Complexo de vira-lata
Eu sou eu, em minhas circunstâncias,
não nasci de um molde pré-determinado,
não carrego o peso de uma herança pura,
mas sim, a riqueza das misturas,
das lutas, das conquistas e das marcas.
Eu sou o Brasil, onde o povo é feito de mil encontros e contrastes,
povo forjado no cruzamento das vontades,
onde a raça, ah, a raça é apenas a capa da história,
[uma fachada]
E ao olhar para o processo da nossa história,
vemos que ser vira-lata é, em verdade,
ser a fusão de todas as diferenças que o mundo tenta separar.
Ser vira-lata?
Não é um rótulo de desprezo,
dirão, não é estigma, mas força nascida do chão,
que não se define por um só rosto,
mas pela beleza da nossa diversidade,
somos mestiços, sim,
e é dessa mistura que nasce o milagre:
povo único, com raízes que se tornaram única
em uma harmonia de ritmos, de cores e sabores,
como as cores de um pôr do sol que pinta nossa pele.
Ser vira-lata é saber que somos ricos de uma cultura
que nasce das nossas histórias e misturas,
da nossas festas e tradições regionais,
da nossas linguagens e dialetos,
da nossa arte e arquitetura,
da nossa culinária e música,
do nosso beijo intenso e apaixonado,
do nosso sorriso que brilha como ouro,
mesmo nas sombras dos nossos dias.
Ser vira-lata é ser Brasil,
e quem não conhece o vira-lata,
não sabe o que é ser ativo,
não entende o que é ser vivo
Triste é quem não entende o milagre da mistura
De ser um vira-lata.