Sem miolo

O miolo de maçã no meio do caminho

Já meio oxidado

Escurecido

Ficou para trás

Jogado ali

Por alguém que passou

Talvez alguém que já habite mesmo a rua

E já não se importe em buscar lixeiras

Zelar pela limpeza da via pública

Ou às vezes até dos cuidados pessoais

As prioridades viraram outras

Sobreviver até a hora seguinte

O dia seguinte

Onde dormir

Ter algo para comer

Ao menos calar o ronco do estômago

Insistindo em bradar

Inconformado

Com a nova situação do corpo

Daquele ser inteiro

Que por alguma razão

Cansou de viver em sociedade

Fazer parte do carrossel

Insano

De coreografias doentias

Fotos em redes sociais

Tão frias

De quem que se diz tão amiga

Tão apaixonada

Mas não é capaz

De largar o celular e olhar nos olhos

Para conversar por uma hora

Já não conseguem ouvir

Só querem falar, falar, falar

De si mesmos

Suas dores

Suas tolas opiniões

Egoísmo imperativo

Pondo o ego no topo

Em definitivo

E alma dilacerada

É empurrada

Com força

Para cada vez mais fundo

E com ela os valores

Princípios

O amor

E a verdade

Aí vem a depressão

Para tentar resgatar

Trazer luz à alma ignorada

Num canto

Mas preferem se entupir

De medicamentos

Terapias e sessões

Para falar de si

De suas dores

E tolas opiniões

E assim vão girando

Num ciclo de rato

E os anos passam

Os dias voam

No fim da linha se perguntam

Que fizeram de sua vida?

Mas aí já é tarde demais, não tem mais o que fazer.....

Maria Carolina Velloso Mello
Enviado por Maria Carolina Velloso Mello em 01/11/2024
Código do texto: T8187318
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