Sem miolo
O miolo de maçã no meio do caminho
Já meio oxidado
Escurecido
Ficou para trás
Jogado ali
Por alguém que passou
Talvez alguém que já habite mesmo a rua
E já não se importe em buscar lixeiras
Zelar pela limpeza da via pública
Ou às vezes até dos cuidados pessoais
As prioridades viraram outras
Sobreviver até a hora seguinte
O dia seguinte
Onde dormir
Ter algo para comer
Ao menos calar o ronco do estômago
Insistindo em bradar
Inconformado
Com a nova situação do corpo
Daquele ser inteiro
Que por alguma razão
Cansou de viver em sociedade
Fazer parte do carrossel
Insano
De coreografias doentias
Fotos em redes sociais
Tão frias
De quem que se diz tão amiga
Tão apaixonada
Mas não é capaz
De largar o celular e olhar nos olhos
Para conversar por uma hora
Já não conseguem ouvir
Só querem falar, falar, falar
De si mesmos
Suas dores
Suas tolas opiniões
Egoísmo imperativo
Pondo o ego no topo
Em definitivo
E alma dilacerada
É empurrada
Com força
Para cada vez mais fundo
E com ela os valores
Princípios
O amor
E a verdade
Aí vem a depressão
Para tentar resgatar
Trazer luz à alma ignorada
Num canto
Mas preferem se entupir
De medicamentos
Terapias e sessões
Para falar de si
De suas dores
E tolas opiniões
E assim vão girando
Num ciclo de rato
E os anos passam
Os dias voam
No fim da linha se perguntam
Que fizeram de sua vida?
Mas aí já é tarde demais, não tem mais o que fazer.....