A Promessa
Quando criança fui a alguns casamentos,
A maioria se desfez antes que eu chegasse à fase adulta,
Me perguntava "Porque as pessoas casam para descasar depois?"
Prometi a mim que se um dia me casasse seria "no papel" e "para sempre",
Não sei se dei sorte ou azar, pois nunca casei e nunca quebrei a promessa,
As pessoas depositam em outras a razão de suas felicidades e embarcam nas frustrações que isso lhes retorna,
A rotina destrói a novidade e a sensação de dopamina da busca e do encontro,
Problemas de outras ordens corroem aquele compromisso por dentro e por fora,
No final sobram indiferenças, ressentimentos e o tédio dos dias,
Muitos suportam o casamento como um fardo, por causa dos filhos e sociedade,
Não querem estar sós em um mundo que impõe regras de companhia,
Murcham como flores apagadas fora de temporada,
Sua estação passa, seu viço desaparece,
O casamento se torna um túmulo dos vivos,
E isso é triste, pois ninguém deveria estar condenado a ser uma alma penada em vida,
Casamento deveria ser partilha, construção, diálogo, crescimento mútuo,
Há dificuldades? Sempre há, em tudo, basta estar respirando e até isso se torna difícil às vezes,
Mas um casamento deveria ser uma promessa de "para sempre",
Uma busca à dois dos ajustes nas peças que vão se desgastando pelo caminho
Um entrelaçar de sonhos, respeito e acolhimento,
A paixão do instante ardoroso passa, mas o amor é uma semente que brota, cresce e requer cuidados para se manter ao longo dos tempos, para tornar-se uma árvore frondosa que oferece sombra e frutos,
Sem isso, não há compromisso, não há responsabilidade, não há valor,
A aparência de rostos, corpos, idades se dissolve no tempo,
Sentimentos, sensações, experiências, cuidados, memórias e superações de adversidades ficam, continuam,
São raízes que se aprofundam e fundamentam a estabilidade, a segurança,
Qualquer solidão é melhor do que embarcar em um naufrágio anunciado,
Logo, minha promessa se mantêm firme,
Casamento só se for para a eternidade,
Do contrário minha solitude é uma boa companhia, pois me oferta serenidade...