Bagagens da vida

Ocorre-me, recorrentemente, que eu sou uma armação

Não no sentido da gíria,

quando esta refere-se a um maldoso articulador

Mas no sentido de grade, de depositário dos mais diversos tons

Como um quadro para um pintor

Cuja arte oscila

Cuja mão titubeia

E se me agregam valores, sentimentos e temas

Tão caóticos e estapafúrdios

Que desafiariam qualquer teorema

Ando com este invisível estandarte às costas

Como num carnaval fantasma e jocoso

De irônicas conseqüências de prazer e nojo

Que cresce enquanto eu vivo

Que prospera enquanto encolho

Que chamo de experiências

cujos fracassos eu recolho,

Adiciono ao sótão da memória e só lembro às vezes...

Como agora.