DIÁLOGO COM O TEMPO
Meu querido tempo,
Você passou como vento despercebido,
Será que me afoguei em mares de trabalho?
Ou me perdi em labirintos de livros?
Sou eu, a navegante errante, que admito minha culpa.
Minha filha floresceu sem que eu visse,
Como uma árvore que cresce em silêncio,
Quase mulher, quase adulta,
E eu, distraída, correndo contra as estações.
Corri demais, mais que as águas de um rio ansioso,
E me perdi nas curvas da pressa.
Você, tempo, foi uma sombra ao meu redor,
Que eu não vi dançar.
Agora, no espelho, você se revela,
Os segundos, minutos, dias e meses,
São grãos de areia que escorreram por entre meus dedos,
E pior, fugiram pelos meus olhos abertos.
Querido tempo,
Você é o único que lamentamos quando se vai.
Cada minuto não vivido é um pássaro sem canto,
Cada segundo não dito é um silêncio amargo,
Cada dia não sentido é um inverno sem cor,
E cada ano perdido, uma sombra que se esvai na memória.
Agora, quero te sentir como se fosse vento na pele,
Quero saborear teu sopro em cada instante,
Desapegar-me das angústias que pesam como pedras,
E seguir por um caminho leve,
Aproveitando-te como um rio que desliza suave.
Não quero mais olhar para as fotos
E me perguntar onde você esteve.
Não quero perder oportunidades,
Deixadas para trás em covas de medo e desculpas.
Quero trilhar essa jornada chamada vida,
Onde cada um tem seu próprio ritmo.
Com sabedoria, tranquilidade e olhos atentos,
Pois amo cada suspiro dessa existência,
E quero sorver cada sabor que ela me dá.
Quero olhar para as memórias,
Para as fotos da minha filha,
Sentir que, enfim, nas histórias,
Minha presença é quem brilha.