DIÁLOGO COM O TEMPO

Meu querido tempo,

Você passou como vento despercebido,

Será que me afoguei em mares de trabalho?

Ou me perdi em labirintos de livros?

Sou eu, a navegante errante, que admito minha culpa.

Minha filha floresceu sem que eu visse,

Como uma árvore que cresce em silêncio,

Quase mulher, quase adulta,

E eu, distraída, correndo contra as estações.

Corri demais, mais que as águas de um rio ansioso,

E me perdi nas curvas da pressa.

Você, tempo, foi uma sombra ao meu redor,

Que eu não vi dançar.

Agora, no espelho, você se revela,

Os segundos, minutos, dias e meses,

São grãos de areia que escorreram por entre meus dedos,

E pior, fugiram pelos meus olhos abertos.

Querido tempo,

Você é o único que lamentamos quando se vai.

Cada minuto não vivido é um pássaro sem canto,

Cada segundo não dito é um silêncio amargo,

Cada dia não sentido é um inverno sem cor,

E cada ano perdido, uma sombra que se esvai na memória.

Agora, quero te sentir como se fosse vento na pele,

Quero saborear teu sopro em cada instante,

Desapegar-me das angústias que pesam como pedras,

E seguir por um caminho leve,

Aproveitando-te como um rio que desliza suave.

Não quero mais olhar para as fotos

E me perguntar onde você esteve.

Não quero perder oportunidades,

Deixadas para trás em covas de medo e desculpas.

Quero trilhar essa jornada chamada vida,

Onde cada um tem seu próprio ritmo.

Com sabedoria, tranquilidade e olhos atentos,

Pois amo cada suspiro dessa existência,

E quero sorver cada sabor que ela me dá.

Quero olhar para as memórias,

Para as fotos da minha filha,

Sentir que, enfim, nas histórias,

Minha presença é quem brilha.

Tatiana Pereira Tonet
Enviado por Tatiana Pereira Tonet em 21/09/2024
Reeditado em 21/09/2024
Código do texto: T8156405
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