O TROCO
Um dia temos o reino nas mãos e o sol parece curvar-se em nosso louvor;
Paramos infantilmente perante o espelho e temos orgulho de tudo que vemos;
Então julgamos poder brincar com a vida, na insana idéia de que dela somos senhor;
E no jogo cego da vaidade, pensamos que jamais perderemos!
Com pés de aço, pisoteamos a sorte que da sarjeta nos ergueu;
E não olhamos para trás, nem para o infortúnio que no presente semeamos;
Iludidos e qual narcisos, esquecemos até de quem nunca nos esqueceu;
E pensamos que sempre sorriremos, porque até aqui não choramos!
Na vã sensação de triunfo, nem o perdão imerecido tem o nosso valor;
Todos os atos levianos, são coroa de nosso desenfreado egoísmo;
E nem cogitamos a iminente proximidade, da queda e sua imensa dor;
Onde pagaremos cada centavo, por nosso acentuado cinismo!
Então numa breve página de nossa história, somos visitados pelo tempo;
Ele altera a antiga imagem, que vimos outrora no espelho;
Agora enxergamos de perto todas as rugas do lixo que temos por dentro;
E somos esbofeteados pela consciência, de quem sempre ignoramos os conselhos!
O sorriso arrogante dá lugar agora a ossos secos de solidão;
Há um imenso vazio onde um dia esteve quem tanto nos amou;
Onde andará esse alguém, a quem ofertamos tanta humilhação?
Talvez agora sorrindo, quem tantas vezes por nós já chorou!!!