No Escuro
A noite o medo vem e tudo muda
A testa enruga
Não há ajuda
Pra solidão que madruga
Que fere profunda
Aonde a dor abunda
Onde toda palavra é nula
Onde toda lágrima é chuva
Vinhedo sedento sem uva
Doença cruenta sem cura
Tarde cinzenta e púrpura
O sol é cinzel que machuca
O raio é a agulha que sutura
A ferida da qual o sangue borbulha
Riscando de vermelho a pele pura
O compromisso é a ruptura
O tempo é um momento que não dura
O Amor é um monumento à mulher impura
Se esgueirando em noite escura
Amando enquanto machuca
Sorrindo enquanto escuta
O tilintar das taças de cicuta
Da realidade que chega abrupta.