Ansiedade
Enorme e monstruosa
Heroína, ocasionalmente vilã
Coisa inquieta que perturba a alma
Filha da tal culpa cristã
Faz-se descomedida
Em excesso de preocupação
Tarada pelo depois
Se revela pagã, pois.
Embrulha o estômago
Desregula a flora
Anseia forçar o sorriso
E o vômito
É a necessidade de querer ser bom
E não ser
De não querer cortar
Mas com o trauma tão fundo perfurar
Afiado que sou
Ingenuidade é nessa bondade acreditar
Não se dar o direito de errar
Nisso reside a minha sina
E mesmo que erre
Camuflar e reprimir
Só revelar na rima
Vai, faz
Vai, erra
Vai, frustra-te
Vai, cobre o erro com outro
Vai, performa a integridade
Já nessa idade tão bêbado
Tão lúcido
Tão refém e tão romantizador
Do abandono
E de, até lá, ser súdito
Escravo daquilo que me faz vivo
Daquilo que me obriga a ser
Sistematicamente
Ansiosamente
Melhor, bom, íntegro
Mas os dias passam e percebo
Sou cada dia pior, duro e poeta.