Emudecer do tempo
Da boca que tanto amou, de palavras e desilusões, de beijos e murmúrios.
Das linhas, regras, conceitos, da ordem que tanto impõe, cansou a língua e cuspe.
Sentiu se nú, tão desfeito, um tempo que só abate e seca.
Recuou por entre as pedras, estilhaços de sentimentos, sentou se à sombra da parada.
Arrancou as sandálias de calos, pés exaustos, mãos que feriram e cozeram.
Desprendeu as amarras, soltou o nó, dormiu a goela.
E num Sol poente, percebeu a simplicidade da vida.
Da cartilha velha, sobraram páginas inúteis.
Serviram ao fogo, que aqueceu a noite bem desolada, todos se foram.
Ventos passam, devastam, e vão embora.
Emudeceu o barulho do nada, como um sino em capela só.
João Francisco da Cruz