Antes do adormecer
Todo dia
Algo pra tirar meu sono
Será que é muito o que sonho?
Será o álcool que tomo?
Neurose aqui é loteria
A noite uma culpa aleatória
Eu deveria ter sido melhor
Mente quem diz que ela é transitória
Notícias de Belford Roxo
De Vitória
O passado é presente
Não tem jeito, faz parte da minha história
É violento esse passa-tempo
Rebaixa todos os vãos sonhos
Uma gororoba e um maço de cigarro
No fim do mês é o que mata minha fome.
Mas não a insônia.
Pavor do meu quarto
Nele é que a cabeça tristonha
Anseia
Como contrações do pré-parto
Só que eu não dilato
Dureza de bolso, dureza de alma
Ternura eu guardo
A quem me tem na palma
Dou a mão e o braço
Incapaz de sentir só um pedaço
Odeio e amo em maior intensidade
Só não se compara ao tamanho
Da minha ansiedade
À meia-noite ela é selvagem
Me tira a coragem
Me tira a vontade
Me faz como ela
Covarde.
O que puseram em nossa cabeça?
O pavor de decepcionar
O viver pra se enganar
Basta encostar no travesseiro pra deitar.
Pra fugir desse montaréu
Caneta e papel
Diabo no ouvido falando
Não ouço nada do céu
Eu entendo se Deus quis se afastar
Não sou dos melhores filhos
Mas com ele aprendi a amar
Nessas andanças que me meto
Madrugada, cachaça e luar
Chamo por Seu Capa Preta
Esse sei que não vai me abandonar
Ele sabe pelo que passo
Não peço
Mas também não dou trabalho
O vejo todo santo dia
De dia santo a dia odiado
Acabei tergiversando
É o costume que eu trago
Pra afastar pensamentos-insônia
Mais um trago.
Enfim, agora eu apago.
Eu, ou o cigarro?