Rabiscando a vida.

Rabiscando

Sobre as linhas retas

Que não posso ver

Vindas lá da luz do céu

Encobrindo o breu, que nos convida

Com palavras que não posso ouvir

Nada é incrível, no entanto

Elas são tão claras

Quanto a cara imprecisa

De sorriso obscuro

Escondida, atrás do muro da vida

Quanto o brilho do ouro, que não tenho

Mas eu sei quanto estão lá

Vou rabiscando em desenhos

Solução pra tantos medos

Quantos enredos mirabolantes

Entretanto, nada inverossímeis

Pois eu sei o quanto estão elas

Sob a luz das velas

Sob o malho de cinzéis

Prontas pra se revelar

Talvez como simples rascunhos

Sob a força dos punhos

e a constãncia da vontade

Essas, em linhas não tão retas

Pois a verdade se curva

Pra se alinhar com o horizonte

Azulado e verdejante

Cujo limite do olhar não alcança

Não alcança de olhar aberto

É preciso um pensar mais longe

Pra poder enxergar

O que esteve tão perto

Mas oculto sob o malho dos cinzéis

Quantos céus e quantos outonos

Verão teus olhares mornos

Teus ouvidos vitrificados

Quantos vasos queimarão teus fornos

Carentes de um olhar mais puro

De enxergar no escuro

Encobertas pelo breu que te convida

A enxergar de forma assim, tão clara

A cara da vida?

Edson Ricardo Paiva.