LÍLIA I

Fecundada de si mesma;

Ouviu quebrar o silêncio, o som de corrente;

As palavras voaram para onde não pôde chegar;

A invisibilidade a fez harpia, de voz estridente.

Os olhos arderam, ao avistar o que é sutil;

Os olhos que fitam, a viu frágil, pueril;

Seu corpo preto já foi cinza, resurgiu;

Num impulso alçou vôo, conquistou o céu anil.

A existência é incerta;

O amanhã nem sempre espera;

Das areias que não dão trégua;

Quem anteveio a liberta.

No âmago o banzo escarlate e rubro;

Pulsa e brilha no corpo escuro;

Sua falta é lacerante, eco mudo;

Sua presença fortalece, mata o luto.