Abrente, abridura
Acho, Luísa, esse teu poema,
"Abrente" (ou amanhecer, ou
Amencer, se o tomamos como
Deverbativo, mas também
Pode ser "abridura", "abridela"
E até "abrimento"), mais sol-pôr
Do que amanhecida: Por que
Sois tão amigos das sombras,
Mesmo no meio da luz meridiana,
As poetas galegas? Por que tanto
Seguis os passos dos poetos que
Vos precedem? Até Rosália ...
Ah! Desculpa, leio inteiro, íntegro
O poema e vejo, sim, vejo que
O coroas com uma precisa
Declaração de futuro:
"As minhas mãos procuram
"No tempo aquilo que é".
Sim, parece quase cabalístico
Esse verso, mas oposto,
Contraditório do primeiro,
Que reza "A Cidade amence como
"Un carro de frio" ... E no meio
Quase um aceno à verdade
Feminina ... "O futuro levanta
As anáguas das ondas coquetas".
"Coquetas" vale por sedutoras,
Como me diz o melhor tradutor
Do mundo? Não será melhor
Versão "presumidas" ou "vaidosas"
Ou "volúveis" ...? Luísa, abandono
O comento não procurado e
Mergulho-me nas lembranças
Perdidas e nos tempos que já
Não são ... Um vazio gélido
E súbito senti, agora, como
Aparição virginal de uma
Santa sem nome ...