transgredir o tempo sem demora

Os minutos são impiedosos

mal olho para eles

e eles escorrem

não entre meus dedos

sim entre minhas chances

e as lágrimas não perdoam

nem esperam

escorrem também

não entre meus olhos

sim entre meus lances

– é preciso trabalhar

produzir

ser

sobreviver

e, ainda,

viver

enquanto sinto o gosto salgado

adentrar os lábios apertados

apartados do grito que deseja liberação

permissão

extravasamento

– tudo o que há são tormentos

vontades mal contidas

desejos pendurados

sonhos despedaçados

histórias que nunca sairão da minha cabeça

amores, tragédias, comédias

tudo preso

represado

nunca lançado à terra

– que terra?

E, enquanto roubo o tempo do próprio tempo

sinto a cobrança solene

em mais uma notificação insólita

– não abra a porta! Não abra a porta!

Mas ninguém me escuta

nem eu… 

o que resta é apenas o risco que corro

sempre que me permito a heresia

de não crer no tempo

como me disseram um dia.

noi soul

Pulsão Poética