Monstro ladino
Ando todos os dias pelo monstro ladino
Onde meus passos pressionam, seguem-me teus olhos
Todas as janelas abertas por dentro da vida
Recitada em portas envelhecidas por aberturas sem ambientes
Anestésica rotina esconde as dores da cirúrgica irrealidade
Esses olhos sem boca e sem brilho
Nada me dizem nas entrelinhas de néons
Apagados, descascados, findos
como são findos os últimos raios dos dias
que passam e repassam sem nunca serem os mesmos
Sou refém dessas nuvens aturdidas esfomeadas nuvens
Que me passam e transpassam com esse requentado gosto branco
O monstro segue indiferente rente aos inúmeros passos
Compasso impassível sem apego, sem pegadas
Achei-me na esquina como quem nada acha
Angústia áspera arranha os céus do inerte monstro
De razão oca pelos sonhos silenciosos
Abre a boca e engole sentimentos cimentados
Por ruas e avenidas os pobres coitados formigam
Mal sabem medrados seus passos, pelo monstro foram pisoteados