Nem feliz nem triste
Nem feliz, nem triste. Aquele momento em que a vida lhe parece uma incógnita, como sempre foi. Mas agora é diferente. Algo mudou dentro de você. Algo mudou dentro de mim. Não entendo porque algumas coisas acontecem comigo. Não entendo porque caí nesse mundo e levo uma vida que não escolhi. Nada tem um sentido pronto. Algo está para ser revelado, mas enquanto isso permaneço no caminho, sem nada querer, apenas vivo. O ar entra por meus pulmões enquanto sai pelos seus, compassadamente, em ritmo sincronizado, e uma suave brisa por sua janela aberta. Você não anseia, apenas vê, pressente, prenuncia, algo que está por vir. Mas não precisa vir. Tudo paira livre de pensamentos. Apenas ouve o som das batidas do coração, o centro de tudo, de onde tudo nasceu e morrerá.
Eu não sei porquê, tenho a impressão de que tudo se repete infinitas vezes sem nenhum controle. Por mais que se tente, tudo irá se repetir várias e várias vezes, chegará ao fim e retornará ao início, cabe a mim gostar ou não disso. Por vezes amei e por vezes odiei. Agora estou no meio, não gosto nem desgosto, apenas contemplo o nada, o silêncio. Não anseio por ser alguém, nem para mim nem para alguém. Eu sei o que sou. Sou o ar que respiro e dele me basto. Não sou ninguém e estou satisfeito. Não anseio por nada, pois sei onde tudo isso dá, onde sempre deu e sempre dará.
Tanta vida desperdiçada. Toda vida é um desperdício e estamos aqui para não fazer nada. Estamos fazendo tudo e nada ao mesmo tempo. Estamos fazendo nada achando que estamos fazendo alguma coisa importante. Nada é para ter sentido. Tudo é ilógico, absurdo, irracional. Talvez a beleza seja aceitar.